O que fazer quando estamos perdidos?





“Fulton Sheen, antigo bispo auxiliar de Nova York, famoso pela sua pregação através do rádio, contava uma experiência que teve em Filadélfia. Estava a caminho do local onde ia dar uma conferência, e perdeu-se nessa cidade; resolveu então pedir informação a uns garotos que estavam brincando na rua. Perguntou-lhes onde ficava a Prefeitura. Um dos meninos ofereceu-se para acompanha-lo a pé. No caminho, o garoto perguntou-lhe o que ele ia fazer lá. O bispo respondeu que ia dar uma conferência. – “Sobre o quê? ”, insistiu o garoto. –“Sobre como ir para o Céu”, replicou o bispo. E a resposta do rapazinho o fez pensar muito: “Sobre o modo de ir ao Céu?” Mas se o senhor não sabe nem ir até a Prefeitura!”” (A Misericórdia Divina, p. 63, 64)




A pergunta aparentemente tão inocente e singela certamente levou o leitor a sorrir. E, juntamente, com o sorriso veio a ideia de que a criança é assim mesmo: pensando no concreto não viu, nem previu a imensidão do que seria a palestra do sacerdote.

E, se estendermos ainda a conversa, certamente virá um “que bonitinho”... Crianças...

Mas, será que é assim mesmo?


Ouso dizer que a sabedoria popular e a inocente sabedoria da criança não deveriam ser descartadas, ainda que fosse por um douto palestrante em firmes condições de ensinar o caminho do céu.
A criança, como disse antes, trabalha essencialmente no concreto. Logo, saber o caminho da Prefeitura para alguém que mora na cidade e anda pelas ruas, é simples e óbvio. Como poderia aquele homem de Deus saber o mais difícil, quando não sabe algo tão simples? Perguntaria a si mesmo o garoto.

A anedota vale uma boa reflexão.

O sacerdote precisa chegar ao seu destino em um lugar desconhecido. Poderia fazê-lo de várias formas: algumas mais fáceis, outras mais difíceis; sozinho ou com ajuda de alguém; usando um mapa, GPS, google maps ou Waze (mais na moda e é certeiro...). Nessas diversas e variadas opções, o sábio sacerdote dá uma boa olhada no local e mira um garoto na rua. Seu olhar atento encontrou no garoto a pessoa certa para ajudá-lo, afinal é alguém que conhece o lugar e pode dar a informação preciosa que o mestre tanto necessita.

Mas... perguntar a uma criança?

O sacerdote era um sábio. E os sábios não se deixam levar pelas aparências, nem pela idade, muito menos pelos títulos. Os sábios procuram aqueles que podem levá-los à verdade, ao lugar certo. Neste caso... à Prefeitura. E foi muito bem-sucedido, pois obteve a resposta que o levaria aonde queria chegar.

Na continuação da historinha o caso é mais complexo: chegar ao Céu. Como chegar ao Céu se não sei o caminho?

Com certeza, será preciso darmos alguns passos.

Primeiramente devemos nos perguntar se queremos mesmo chegar ao céu. Essa pergunta interna e muito séria é importantíssima, porque se o meu querer é “mezzo mozzarella, mezzo calabresa” como diria minha nona, aí qualquer coisa serve. 

Serve perguntar para aquela amiga que não sabe nada de nada, mas está sempre a dar conselhos (e que conselhos!!!), procurar aquela pessoa que vai falar exatamente o queremos ouvir (mas não o que precisamos ouvir), ouvir a blogueira do momento (ela sempre tem novidades),  tentar resolver tudo sozinho e sem pedir ajuda, enfim... Vale até buscar no Waze...

Mas, se por outro lado, o meu querer é verdadeiro e sincero, aí eu preciso buscar quem saiba me mostrar o caminho certo e seguro. É preciso buscar as pessoas que realmente poderão me ajudar. Pode ser difícil e doloroso no início, porque a busca pelo caminho certo nem sempre é fácil, porque pode ocorrer um misto de vergonha e “deixa que eu resolvo”.

Quantas vezes nos enrolamos em caminhos tortuosos e cheios de espinhos, porque não fomos simples o suficiente para “procurar ajuda eficaz e eficiente”.

Todo mundo um dia se perde no caminho. Daí dizermos: “errar é humano”. O importante é querer consertar, e isso exige simplicidade. Exige que nos perguntemos: “como faço para voltar” ou “como faço para sair dessa”? Sem medo de que nos julguem tolos ou maus. Sem receio do que vão pensar de nós. E pode ser que pensem mesmo. Mas, e daí?

Quando nos decidimos a fazer o que é certo procurando quem realmente possa nos ajudar, surge uma paz consoladora e uma alegria imensa. E isso tem uma explicação.

O ser humano não nasceu para viver no erro, nem fora do caminho. Nós nascemos para o que é certo, para a felicidade. Quando nos desviamos, por qualquer motivo que seja, primeiro vem a euforia de estar “vivendo como se quer, sem dar satisfação para ninguém”. Entretanto, depois vem a tristeza, um vazio muito grande que não sabemos explicar ao certo, mas que vai consumindo nosso coração pouco a pouco.

Se durante a caminhada surge um breu profundo e já não sabemos por onde ir, o importante é pedir ajuda a quem esteja com uma vela na mão ou uma lanterna e se formos bem espertos, procuraremos a tocha acesa com o fogo que não se apaga.

Quanto bem encontramos em uma simples historinha!

Meu muito obrigada ao bispo Fulton Sheen que deve ter achado engraçada a pergunta do garoto há muitos anos e que rendeu uma  reflexão proveitosa, pelo menos, para mim.

Se depois  de tudo lido, você também pensou em alguma saída para buscar a felicidade pelos caminhos mais certos, valeu a pena chegar até aqui. 

Então, mãos a obra!


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