Boa noite, minha heroína
Eu não a conheço. Vejo-a de longe. De costas. Da janela de meu quarto. Não faço ideia de como é seu rosto, pois só a vejo de costas. Não faço ideia do seu nome, sua idade (calculo que tenha entre 50 e 60 anos), mas posso estar enganada, pois minha visão é privilegiada para o todo, mas não para os detalhes. Não faço ideia de como é sua vida durante a manhã e à tarde. Só a vejo à noite, tarde da noite, todos os dias, de domingo a domingo, faça sol ou faça chuva, com calor ou toda agasalhada. Lá está ela. Sim, ela estará lá todos os dias. Eu, a essa hora estou morta de cansaço, pronta para dormir o sono dos justos. Por volta das 22 horas, todos os dias, despeço-me da minha turma e vou para meu quarto. Olho pela janela e lá está ela. Deve estar cansada também. Mas, está lá. No tanque e na máquina de lavar. Sempre ativa e sem fazer corpo mole, ela esfrega as roupas no tanque, coloca na máquina e aproveita para lavar o quintal. Todos os dias. O local não é muito grande, mas dá trabalho. Às